PARTICIPE DO BILM
Nós, mulheres e homens dos povos indígenas de Abya Yala junto a mulheres e homens de ascendência africana, para efeitos deste documento nos declaramos e nos reconhecemos como pessoas indígenas e afrodescendentes, representando aos povos e comunidades do Canadá, Estados Unidos, México, Honduras, Nicarágua, Colômbia, Equador, Peru, Bolívia, Uruguai, Brasil, República Dominicana, Suriname e Espanha, reunidos com a proteção das nossas e dos nossos ancestrais na Segunda Assembléia Geral do Movimento para a Liberação Negra e Indígena (BILM).
No marco da comemoração dos 529 anos de resistência dos Povos Indígenas e negros, do Decênio Internacional para os Afrodescendentes e há 20 anos da III Conferência Mundial contra o Racismo, a Discriminação, a Xenofobia e todas as formas conectadas de Intolerância.
CONSIDERANDO QUE:
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Para os povos indígenas e afrodescendentes de Abya Yala, o ano 1492 representa o início de uma era de genocídio e racismo institucionalizado ainda vigente. Os nossos povos estarão sempre interligados pela invasão, saqueio e colonização das Américas e do Caribe que trouxeram consigo tragédias como a escravidão e o colonialismo. Para nós, estas atrocidades não apenas representam o nosso passado, mas também pesam sobre o nosso destino comum no presente.
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Buscamos resgatar e reivindicar a memória e a história coletiva mediante a visibilização das distintas comunidades e dos povos indígenas e afrodescendentes, com o objetivo de enfrentar as cicatrizes dolorosas do passado colonial que historicamente ocultou os saberes e tradições das diversidades dos nossos povos.
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Reconhecemos que o colonialismo que combatemos tem um caráter histórico específico e é o método pelo qual o capitalismo acumulou e continua acumulando riquezas, através do espólio e do subdesenvolvimento dos nossos povos. Por tal razão, a nossa luta contra o capitalismo e contra a supremacia branca é também uma luta contra o capitalismo, e uma vez que ganhemos a nossa liberação também ganharemos a emancipação da classe trabalhadora de todas as nacionalidades, gêneros e orientações sexuais.
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Como Movimento para a Liberação Negra e Indígena a nossa luta é interseccional, transeccional, antirracista e feminista. Precisamos evidenciar e questionar a inegável relação existente entre capitalismo, patriarcado e racismo. Por isso, devemos reivindicar a soberania dos corpos e reconhecer o papel das mulheres como líderes na conservação dos direitos territoriais, da proteção da natureza e dos saberes ancestrais.
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A humanidade inteira enfrenta os efeitos da mudança climática, a qual afeta diretamente a nós, os povos indígenas e as comunidades afrodescendentes, que estamos na linha de frente de combate, pela proteção dos nossos territórios diante do avanço do modelo capitalista-extrativista.
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Os povos indígenas e as comunidades afrodescendentes têm sido as mais afetadas pela mudança climática, hoje transformada em emergência climática. Seus territórios estão sendo arrasados pelas queimadas, pela mineração, pelos agronegócios, pela extração de madeira e sobretudo pela falta de garantia de seus direitos e pela violência.
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Os afrodescendentes e os povos indígenas representam a matriz da desigualdade social na América Latina, no Caribe e nos Estados Unidos da América do Norte.
RECONHECENDO QUE:
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Como Movimento para a Liberação Negra e Indígena buscamos a formação de uma plataforma sustentada por redes comunitárias sólidas, integradas por organizações e coletivos sociais indígenas e afrodescendentes do continente, com o objetivo de favorecer as ações coletivas, solidárias, coordenadas e organizadas.
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Buscamos gerar consciência sobre a necessidade da unidade como ferramenta para construir um mundo livre de racismo, violência e discriminação.
DECLARAMOS QUE:
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Hoje, 12 de outubro de 2021, nos apropriamos desse dia e o reivindicamos em comemoração à resistência anticolonial, indígena e afrodescendente dos povos de Abya-Yala, unidos e unidas na nossa luta contra o racismo e contra todas as formas de discriminação.
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134 organizações, comunidades de base, coletivos e movimentos sociais de 13 países de Abya-Yala, nos articulamos para realizar o SEGUNDO ATO DE RESISTÊNCIA ANTICOLONIAL AFRODESCENDENTE E INDÍGENA mediante jornadas de resistências simbólicas desde os diversos países.
DECLARAMOS QUE:
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O aumento do desmatamento, dos incêndios florestais, dos projetos extrativistas, dos agronegócios, têm grandes consequências para os povos indígenas e afrodescendentes.
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A terra é a base da liberdade. Todas as terras indígenas devem ser devolvidas à seus respectivos povos e todas as comunidades afrodescendentes devem ter livre-determinação sobre as terras nas quais foram escravizadas ou segregadas anteriormente, em concordância com a soberania indígena.
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As instituições policiais e carcerárias foram construídas com o propósito de colonizar-nos e por tanto devem ser abolidas para conseguirmos a nossa liberação.
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Não pode existir justiça ambiental sem justiça racial.
PORTANTO, DEMANDAMOS AOS ESTADOS E AOS GOVERNOS:
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Dado que o tráfico transatlântico de africanos para serem escravizados e o genocídio de indígenas nas Américas foram crimes atrozes contra a humanidade, se exige estabelecer justiça, recursos e medidas compensatórias e reparadoras a nível nacional, regional e internacional para resarcir as injustiças realizadas até a data de hoje contra os nossos povos.
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Respeitar os nossos territórios, bosques, rios, biodiversidade e minerais, pois não são recursos a ser explorados, pelo contrário são fundamentais para a nossa vida, e para a vida no planeta.
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Exigimos aos Estados e às empresas que respeitem e garantam o nosso direito ao território, à autodeterminação e à gestão de todos os recursos contidos nas nossas terras, pois estamos cansados de ver como o modelo colonial-extrativista arrasa com a natureza e com as nossas comunidades.
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O cessar da criminalização dos nossos irmãos e irmãs que foram assassinados, assassinadas e agredidos por defender os nossos territórios, nossos bosques, nossa cultura e nossa vida das diversas ameaças.
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Exigimos uma prestação de contas justa e rápida pelas vítimas de assassinatos policiais racistas, feminicídios e assassinados pelo Estado que defendam os nossos territórios.
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Exigimos ser considerados protagonistas com igualdade de direitos em qualquer processo ou projeto que afete as nossas comunidades e territórios. Uma vez que as organizações comunitárias, movimentos de base, são ligados aos processos territoriais e comunitários somos soberanos dos nossos territórios.
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Exigimos o nosso direito à livre determinação, a viver de acordo com as nossas práticas ancestrais, em coletividade e em harmonia.
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Acesso à água limpa, à segurança e à soberania alimentar para poder garantir a vida dos nossos povos indígenas e afrodescendentes.
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Criar políticas públicas interculturais que garantam o acesso à saúde e à uma vida digna para os povos indígenas e afrodescendentes.
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Combater a desigualdade e a injustiça que vivemos os povos indígenas e os povos afrodescendentes, e que no nosso dia a dia se traduz em maiores dificuldades para o acesso ao emprego digno, educação ou serviços de saúde, entre outros.
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Demandamos programas e ações que fortaleçam a nossa identidade, nossas culturas e saberes ancestrais para caminhar em harmonia com a nossa Mãe Terra.
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Eliminar dos espaços públicos, os símbolos e monumentos que representem o colonialismo, o genocídio e a supremacia blanca.
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Proteger, conservar e administrar de forma sustentável pelo menos 80% da Amazônia e outras áreas de vital importância para o planeta até 2025, em colaboração e reconhecendo a liderança dos povos indígenas.
DEMANDAMOS AOS ORGANISMOS E À COOPERAÇÃO INTERNACIONAL:
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Planejar programas e ações em conjunto com atores indígenas e afrodescendentes para erradicar e lutar contra a discriminação racial..
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Destinar recursos e fundos diretos para apoiar processos coletivos dos povos indígenas e afrodescendentes.
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Implementar programas e ações para superar a brecha das desigualdades de gênero, desigualdade e discriminação social.
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Elaborar programas e ações de cooperação internacional baseadas no fortalecimento dos direitos humanos e da identidade dos nossos povos.
Declaração emitida em 22 países de Abya Yala, no dia 12 de
Outubro de 2021
Aprovam:
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AfroCaracolas Saberes Itinerantes (México)
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AfrosRED (República Dominicana)
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Apib (Brasil)
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Confederación de Nacionalidades Indígenas de la Amazonia Ecuatoriana (CONFENIAE)
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Yuturi Warmi (Ecuador)
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Comunidad Kichwa de Serena (Ecuador)
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Federación de Organizaciones Kichwas de Napo (Ecuador)
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Coordinadora Nacional de Mujeres Negras (CONAMUNE, Ecuador)
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Coordinadora Andina de Organizaciones Indígenas (CAOI)
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Consejo Indígena Andino de Perú (CIAP, Perú)
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Consejo Regional Indígena del Cauca (Colombia)
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Mujeres de Asfalto (Ecuador)
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Amandla Medio (Ecuador)
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Ecuarunari (Ecuador)
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CONAMQ (Bolivia)
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Consejo de Gobierno Wankavilka (Ecuador)
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Juventud Wankavilka (Ecuador)
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NYC Shut It Down (Estados Unidos)
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Sinchi Warmikuna (Ecuador)
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OIS (Suriname)
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Foro Do Eixo (Brasil)
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Mídia Ninja (Brasil)
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Midia India (Brasil)
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Mizangas (Movimiento de Mujeres Afro, Uruguay)
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Educate Tomorrow (Estados Unidos)
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GFA (Estados Unidos)
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OIS (Suriname)
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Ukays Jaguar Berá (Uruguay)
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FCT (Suriname)
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ONILH (Honduras)
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MAMA TORTUGA.ORG (Estados Unidos)
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Asociación Cultural Brasileña Maloka (España)
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Asamblea Plaza de los Pueblos (España)
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ORPIAN-P (Perú)
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Awana Colectiva (Ecuador)
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Humana Arte - Dialogo e Convivencia (Brasil)
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Rosa do infinito/nucleo bartolomeu de depoimentos (Brasil)
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Asociación de jóvenes afrodescendientes del Guaviare (Colombia)
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ASO. DE MUJERES AFROECUATORIANAS DE LA FRONTERA NORTE DAMAS DE ÉBANO - MOMUNE (Ecuador)
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Common Defense (Ecuador)
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Indigenous Climate Action (Canadá)
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Hackeo Cultural (Guatemala)
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Futuros Indígenas (Mesoamérica)
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Asociación de mujeres del pueblo afroecuatoriano de la frontera norte Damas de Ébano (Ecuador)
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FUNDACIÓN LIDERESAS DEL ECUADOR QUEVEDO, ASAMBLEA DE MUJERES QUEVEDO (Ecuador)
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NIK (Canadá)
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Hum pampa (Uruguay)
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Fundación Étnica Integral (LAFEI) (República Dominicana)
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RUPAI producciones (Ecuador)
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Centro de Investigaciones Etnobiológicas - CHINANGO (Colombia)
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III CUPA (Ecuador)
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Athabasca Chipewayn First Nations (Canadá)
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Runayachay Qichwa Amawtana (Ecuador)
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Consejo de Mujeres Awajun Wampis Umukai Yawi (COMUAWUY) (Perú)
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Cree (Canadá)
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Tochtli Tlahtolli. Tanque pensante de Estudios Literarios Decoloniales (México)
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Fundación Afrodescendiente Karibu (Ecuador)
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WARMI MUYU (Ecuador)
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PITAO BEZELAO (México)
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Movimiento Wiphala España
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LSSA (Ecuador)
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União De Negras E Negros Pela Igualdade (Brasil)
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UNME - Unión Nacional de Mujeres del Ecuador - Filial San Lorenzo (Ecuador)
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EAMI (Paraguay)
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AMUDEVA -Asociación de mujeres del Vaupes (Colombia)
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Las Vegas DSA (Democratic Socialists of America) (USA)
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Colectivo Reexistencias Cimarrunas (Quito)
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Amazon Watch (USA)
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Círculo de Palabra (Nicaragua)
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Organización Nacional Indígena de Colombia
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If Not Then Who (USA)
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Academia Kichwa de Humanidades (Ecuador)
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Indigenous Youth Coalition (Canadá)
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Chilis on Wheels (Estados Unidos)
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Conscious care llc (Estados Unidos)
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FCT (Suriname)
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UNAM (México)
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Consejo de Mujeres Awajun Wampis Umukai Yawi(COMUAWUY)
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Victor García (Huérfano Étnico)
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Kristan Pitts (Estados Unidos)
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Aristides Alonso (NIcaragua)
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Keegan Xavi (Estados Unidos)
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Hung a Lel Ti (Estados Unidos)
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Alicia Obermeier (Estados Unidos)
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Ximena Fonseca Mancilla (México)
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Almudena García García (España)
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Tagüide Picanerai (Paraguay)
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Nicole Camacho Arteaga (Ecuador)
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Josie Zamora (Estados Unidos)
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Reyna M. Ruiz (Bolivia)
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Eva Marie Bonanno (Estados Unidos)
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Sisa Quispe (Bolivia)
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Nicole Orji (Canadá)
Unte-se a nós nessa declaração de resistência
No BILM todas as vozes são bem-vindas. Faça parte da rede e iremos informá-lo sobre nossas próximas atividades.